terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

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Amiga, para que te quero

Uns dias depois de saber que esperava a cegonha, comecei a entrar em descontrole! Um bebé? Mas será que vou ser uma boa mãe? E o meu trabalho, como vai ser? Como vou conseguir avançar com todos os projectos que planeei para este ano? E a empresa, como vai ficar? E a nossa casa? É tão fria, não tem condições para receber um bebé no Inverno… Como vai ser?
Muitas e muitas perguntas vinham à tona. As crises de choro eram constantes e a descompensação começava a sentir-se em cada célula do meu corpo, a léguas de distância.
Andava a pensar na minha amiga Pê há já bastante tempo e era com ela que eu precisava de falar. Não conseguia partilhar certos pensamentos que tinha com mais ninguém. Por vezes é só falando com uma pessoa em concreto que sabemos que vamos tirar um peso de cima, que vamos conseguir descansar. Ou não… Porém era só com ela que eu queria falar, desabafar. Sabia que ela ia compreender o que eu estava a sentir. Recordava-me bem de como foi com ela, das conversas que tivemos quando ela estava à espera da sua bebé.
E assim foi. Um dia, de regresso a Cascais após uma tarde de aulas, decidi ligar-lhe. Liguei-lhe ainda na Auto-Estrada e ela não me atendeu. Investi, então num sms que foi motivo de chacota num almoço de reunião de faculdade. O desconcertante sms pedia que ela me ligasse assim que pudesse, que era muito urgente e que tinha um assunto muito importante para falar com ela. Ai as hormonas, as hormonas… Mulheres! Se ao menos os homens pudessem experimentar por um dia esta coisa das hormonas, talvez parassem de dizer: se eu fosse gaja, comprava umas maminhas. Vocês sabem lá!...
Mais tarde, a minha amiga devolveu-me o telefonema. Encostei o carro e mal atendi, desatei num pranto. Ela apanhou um susto que até hoje faz questão de repetir "Sua estúpida, ias-me dando um ataque cardíaco".

Entre soluços e lágrimas intensas, lá lhe consegui dizer que estava em pânico porque… ESTOU GRÁVIDA!!!! Do outro lado, começo a ouvir uma gargalhada imparável. "Mas olha lá, isso é maravilhoso! Mas isso lá é motivo para chorar? ahahahaha, já estás a ser atacada pelas hormonas!! Ó mulher, tem calma"... Mas como é que eu podia ter calma? Tinha a cabeça a um turbilhão à hora. E a empresa que estava agora a começar? E a minha vida profissional? "Vais ver que as tuas prioridades vão mudar. É isso que vai acontecer, vais ter de reorganizar a tua vida". A Pê falava e eu só chorava. Ela sabia exactamente o que estava a dizer. Eu é que não. Só uns meses depois ia perceber, exactamente a dimensão das suas palavras. Mas não mais as esqueci. Depois desse telefonema de mais de meia hora, consegui serenar um pouco.

Mas era sol de pouca dura. Não demorou muito até as hormonas voltarem a atacar!

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