sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O estado da outra (da Graça)
ou
toda a gente a opinar
ou
os olhares de lado no supermercado quando a barriga ainda não cresceu e não há coragem de dizer, ao fundo de uma fila interminável para a caixa (lá está, porque ainda não se nota)"estou grávida!"
(Divido em partes)
3.2.

Podia continuar aqui com o chorrilho de situações que a mulher enfrenta quando está, então “em estado de graça”: por exempros: ser olhada de lado na fila do supermercado quando perguntamos onde fica a caixa prioritária (bom do supermercado, podia ficar aqui horas e horas a contar peripécias que vivi e que assisti outros casais grávidos viverem).

Uma tarde, já com uma barriga bem proeminente, fui fazer umas comprinhas para o jantar ao meu supermercado preferido. Não vou dizer nomes para não fazer publicidade, mas é onde podemos ir de Janeiro a Janeiro. Convém referir que este em concreto é minúsculo e tem milhoões de pessoas de cada vez que lá entramos. Tanto é, que o meu marido me fez prometer que não punha lá mais os pés, mas uma rapariga tem de aproveitar ter o supermercado ao pé de casa, não é verdade?

Bom, mas voltando à vaca fria: o acesso às caixas é outra dor de cabeça: de todas as vezes que lá fui, o letreiro a indicar caixa prioritária estava virado para a empregada da caixa, em vez de virada para quem vai para a dita. Enfim, Portugal no seu melhor…

Ora: assim é difícil…

Depois, a sensibilidade de algumas pessoas chega a ser, como direi?... comovente. São tão sensíveis, tão sensíveis, que embora estejam na caixa prioritária, ficam furiosas por nós (as grávidas, as prioritárias) pedirmos licença, muito coradas e cheias de vergonha porque a nossa consciência e educação nos ensinaram a nunca passar à frente das outras pessoas.

Aliás, uma mulher pode estar com uma barriga daqui à lua que foram muito poucas as pessoas que, por sua livre iniciativa, vi deixarem-me passar à sua frente. Cheguei à conclusão que muitas pessoas acham que as grávidas QUEREM passar à frente só por capricho. Mas não QUEREM, é um direito que se lhes assiste.

Mais. NÃO, uma grávida, mesmo sem barriga visível ao exterior, NÃO tem a mesma capacidade física que quando não está. Algumas, grupo no qual eu me incluo, só se capacitam disso quando vão parar à urgência da Maternidade, com contracções fortes e ameaça de parto prematuro e têm de ficar uma noite ligada a máquinas estranhas e com soro, longe de casa e assim, de repente. Ehhh, e mesmo assim…

Mas dizia eu: uma tarde em que fui fazer umas compras, estava, como habitualmente, uma fila enorme para pagar. Ora, já sem grandes pudores (porque a experiência tira-nos os pudores) comecei a pedir licença a alguns clientes menos bem humorados.

Atrás de nós estava um casal que, muito a medo, comentou connosco que também estava grávido, mas que não tinha coragem de pedir para passar à frente, porque as pessoas ficavam a olhá-los de alto a baixo, como quem diz: Estás grávida é na barriga das pernas!

Como a gravidez acende o mau feitio, qual tábua de salvação, eu disse à senhora para passar à frente e ela ficou muito embaraçada e disse que, como ainda não se notava a sua barriga, não se sentia bem em fazê-lo, porque as pessoas não acreditavam e olhavam para ela de lado. Começo a acreditar que o melhor é andar sempre com o livrinho verde da grávida e, quiçá, acená-lo quando precisar. Sabe-se lá se qualquer dia destes-z-z,vão querer ver, também, os resultados das análises e as ecografias...

Eu já tinha passado por isso uns meses antes e sabia perfeitamente do que ela estava a falar. Logo 3 ou 4 olhares se levantaram. Disse-lhe que o melhor era ela não ligar os comentários e não ter problemas em passar à frente, porque as pessoas tinham mais era que respeitar e que as caixas prioritárias existem para ser usadas e que quem as utiliza por ter menos gente e não é pessoa prioritária, aguente-se! Há que ter noção de que se arrisca a que lhe passe uma grávida à frente!

Como me disse uma vez uma funcionaria da Segurança Social: “a prioridade é um direito que lhe assiste. As pessoas gostam muito de refilar mas têm memória curta. E ironicamente, são normalmente as mulheres , as piores, as que mais refilam”. Vá-se lá saber porquê. Digo eu.

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